Quando o sol brota no monte Já me encontra na labuta Orquestra dos passarinhos Sou o primeiro que escuta No conjunto sou maestro A enxada minha batuta Seu compasso é harmonia Dissonante diminuta Solto a voz nesse momento E quem não tem sentimento Garante que sou biruta Quem tem sensibilidade Aprova minha conduta Vivendo aqui no sertão Minha saúde é enxuta Me trato com raizada E até concedo consulta Quase um homem das cavernas Fui criado numa gruta Sou tratador raizeiro Não se forma com dinheiro Na medicina matuta No sertão só é doutor Quem aprende e executa Não barganho essa ciência Por um diploma fajuta Curo males do estômago Com polvilho de araruta O amargo do pau pereira Boldo e raiz de buda E algum outro sofrimento Se precisar benzimento Que vem de ciência oculta Eu faço minha mesinha Com o que o mato me faculta Raiz que tiro do chão E casca de algumas fruta O cerrado é um seleiro Dos remédios que resulta A medicina moderna De charlatão me insulta Mesmo mal compreendida Por nada troco essa vida Eu não aceito permuta O sol já vai descampando Eu ainda estou na luta Caboclo pega o batente De maneira resoluta Eu vou tirar mais um eito Nem que use a força bruta Porque amanhã é domingo Vou pra venda do chicuta Tomar uma águardente Pois tenho desse ambiente Segurança absoluta